sexta-feira, 29 de agosto de 2008

De volta para o Passado! - Parte 02

**ATENÇÃO!: Esse post se divide excepcionalmente em 2 partes. Essa é a parte 02. Volte logo abaixo e leia a parte 01 se tiver curiosidade... ou faça como você quiser. Você não é adulto e independente? Só não diga que eu não avisei!
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- Se você conseguiu ler esse post até aqui, deve se lembrar que no último capítulo, nosso herói entrou em choque ao descobrir que ele possuía uma versão de si mesmo nos anos 80 e, como se essa bizarra descoberta não fosse suficiente, ele resolve se lembrar de mais uma das suas bizarras aventuras adolescentes. Eu sinceramente não sei como vocês aguentam esse Blog.. Mas, gosto e gosto. Voltemos agora à continuação de nossa eletrizante (zzzzzzzzz) aventura...
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Quando o ônibus abriu a porta, subimos decididos e irritados com a teimosia um do outro. Para nossa sorte, o ônibus estava vazio. O cobrador estranhou, mas não comentou nada, o sorriso no rosto dele enquanto buscava o troco me fez pensar que talvez eu devesse ter voltado e trocado de roupa, mas pensei que na boate ninguém perceberia.
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Convictos do nosso destino, sentamos, um do lado do outro, constrangidos e sem nada falar pelo resto da viagem. Pelo menos era esse o nosso plano.
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No caminho, entre o barulho do motor e do balanço do ônibus, eu divagava perdido em pensamentos olhando o horizonte pela janela que trepidava. Foi quando percebi que, ao longe, uma longa e assustadora nuvem de poeira marrom se levantava do chão vermelho.
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Por um momento, pensei que se tratava de mais um redemoinho de vento, tão comum na época da seca. Mas era diferente. Ela não se movia e, quanto mais avançavamos, mais a nuvem se aproximava, até que, ao pararmos em um determinado ponto de ônibus descobrimos, atônitos, que a nuvem não era um fenômeno da natureza e sim, um punhado de garotos, alguns anos mais velhos que nós, que se empurravam e estapeavam atrás da parada de ônibus.
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Não, garotos não os definem, eram, para ser mais exato, um bando de Punks mal encarados, com cabelos moicanos, jaquetas jeans e botas sujas. Graças a filmes como "Selvagens da noite" (The Warriors, 1979), eram, para nós, a mais pura personificação do terror.
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Da janela eu rezava: - "Deus, não deixem que eles entrem no ônibus, não nesse". Em seguida lá estavam eles fazendo o sinal para que o ônibus parasse. Entraram os quatro, se empurrando, se debatendo e rindo. Não cruzamos olhares. Um fio de suor desceu dos meus cabelos com Gel. Eles faziam barulho e falavam palavrões.
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Ao cruzar a roleta, eles se cutucaram. Pela visão periférica ví que eles nos notaram. Talvez porque nos nós vestíamos iguais como se fossemos o Milly Vanilly (uma famosa dupla musical do final dos anos 80/90) ou, não sei, fosse pelo fato de estarmos sozinhos no ônibus, talvez? De qualquer forma, assim que nos viram, acabaram com a balbúrdia. Tremi.
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Calmos e organizados eles passaram por nós nos encarando, como se fossemos animais exóticos do zoologico. Sentaram-se no fundo do ônibus. Eu podia ouvir leves cochichos e risadas. Não tinha coragem de olhar para trás. Senti que se aproximavam. Sentaram-se nos bancos atrás dos nossos. Olhei para meu amigo do lado sem virar o rosto. Ele estava petrificado. Meu estômago embrulhou.
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De repente, entre eu e meu amigo, percebi um vulto. Era a cabeça de um dos punks que surgia nos encarando. Mais uma vez, fingi que nada tinha visto. Ele volta. O som dos nossos batimentos cardíacos só não podiam ser ouvidos por causa do barulho do motor do ônibus.
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De repente, atrás de mim, um grito quase ensurdecedor me faz bater a cabeça no teto só pelo susto: - "CHEIRO DE BURGUÊESS!!". Quando voltei ao meu assento, cerca de três minutos depois de ter orbitado de medo, olhei para o meu amigo. Ele parecia um gato quando encontra um cachorro (ou melhor, um rato quando encontra um gato?). Estava de cabelo em pé! O terror foi tanto que o gel evaporou!
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E mais uma vez, outro grito: - "CAPITALISMO SELVAGEMMMM!!" e outro: "PLAYMOBILL CAPITALISTAAAAAAA!!", esse último tão alto e tão sonoro que senti romper alguma coisa nos meus ouvidos. Mas eu continuava impassível. Firme, sangrando pelos ouvidos, mas firme!
Eles continuaram gritando e rindo, por boa parte da viagem. Eu não conseguiria reproduzir aqui o que foi dito porque a partir daquele momento a única coisa que eu conseguia ouvir era o constante zumbido agudo que vinha dos meus tímpanos. Mas fico feliz em saber que nos fizemos a tarde daqueles rapazes tão feliz.. (espero que tenham sido atropelados logo após descer do ônibus!).
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De qualquer forma, assim que entramos na Asa sul, descemos. Não era nosso ponto, mas quem estava contando? Ao pisar no solo e ver o ônibus seguir viagem, fomos tomados por uma grande dosagem de testosterona, o que nos fez chama-los para uma briga justa em solo firme. Infelizmente eles não viram porque o ônibus já se encontrava há mais de 500 metros de nós. Decidimos que era melhor seguirmos viagem. Só para evitar a possibilidade de algum deles ter visto nossos brados de fúria e decidissem voltar.
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Então, é justamente por isso que eu imploro, reunamos todos os registros visuais, fotos e vídeos referentes aos anos 80. Vamos nos reunir em volta de uma grande, uma imensa fogueira para queimarmos tudo, dançamos, bebemos e fingimos, no dia seguinte, que essa década nunca aconteceu.
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Ps - Os registros sonoros eu deixo passar, afinal, foi um dos períodos mais importantes e criativos da musica que hoje conhecemos.

De volta para o Passado!


**E antes que agosto acabasse, eis que surge um novo post.
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ATENÇÃO!: Esse post se divide excepcionalmente em 2 partes. Leia agora a parte 01 e, se tiver paciência a parte 02 logo acima. Boa sorte!

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Eu estava na casa de uma grande amiga quando, depois de bebermos um pouco, ela disse que tinha uma surpresa para mim. Foi ao quarto, pegou o banquinho, subiu e do guarda roupa puxou um álbum de fotos antigo que estava embaixo dos outros.
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Ela tira a poeira da capa, abre e procura por alguma coisa, em cada uma das páginas emplastificadas. Um sorriso mostra que ela encontrou o que procurava. Ela vira o álbum na minha direção e diz: “Eu achei essas fotos alguns dias atrás. Achei que você devia ver”.
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Nas fotos, pessoas estranhas sorriam e se divertiam em um ritual que remetia a algum tipo de celebração tribal. Uma festa talvez? As fotos parecem reais. Antigas, desbotadas e mal batidas. Não eram digitais. Viro a página e encontro cerca de doze fotos. Na maior parte delas havia uma pessoa em comum que eu sabia que conhecia, mas não via fazia algum tempo. Alguém com quem eu convivi. Eu olhava fixamente e tentava descobrir quem era. Estava diferente. As roupas, os cabelos, a magreza. Eu não reconhecia.
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Viro a página do álbum e antes que eu pudesse perguntar para minha amiga quem era aquela pessoa, uma foto em especial reaviva minha memória. De repente, sou tomado por um súbito mal estar. Minha boca seca. Minhas mãos suam. Meu cérebro entra em um tipo de curto circuito porque eu não consigo emitir nenhum som enquanto estudava a foto.
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Se fosse um registro de uma autópsia alienígena eu não ficaria tão surpreso. Mas não era. Eu tremi. Aquela pessoa, naquele álbum. Meu deus... AQUELE SOU EU! Essa é a minha versão dos anos 80!!
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Sim, era verdade. Lá estava eu sorrindo naquela foto embaçada. Até parecia feliz. Era horrível demais pra ser verdade. Tênis branco por fora da calça (estilo basquete), camisa gola Rolê, blazer com motivo escocês, ombreiras e a famigerada calça bag. É sério, você não se lembra da calça bag?? Pelamordedeus, era aquela calça que o coz da calça ficava no meio do seu torax. Se o coz estivesse muito apertado, você teria problemas respiratórios (ou de digestão).
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Mas como era possível eu não me lembrar? Eu nasci em 1970 então 1978, 1979... 1990.. 1990? Espere, tem algo errado aqui. Falta alguma coisa... Talvez meu cérebro tenha apagado aquilo para minha própria proteção e... De repente, um som agudo ecoa em meus ouvidos. Ensurdecedor. O copo que eu segurava se espatifa no chão em câmera lenta. Eu caio sobre meus joelhos. Minha mente é invadida pelo som de “A view to a kill” do Duran Duran, enquanto milhões de imagens são exibidas simultaneamente. Meu primeiro CD, Ghostbusters, a queda do muro de Berlim, Exterminador do futuro, walkmans, VHS, ATARI, We are the World, De volta para o futuro, Rock in Rio, Thriler, Caverna do Dragão, Chernobyl, guerra das Malvinas, Ronald Reagan (A Guerra fria), Fernando Collor de Mello. RAMBO, RPM, MENUDOS!! MENUDOS Não! NãO! NÃÃOOOOOOO!!
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Foi só então que eu me dei conta... EU REALMENTE VIVI OS ANOS 80??!!
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Minha mente volta para aquele fatídico período e eu me lembro...
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Era um dia quente e seco em Brasília. Um sábado como tantos outros na cidade. Redemoinhos de poeira eram comuns nessa época do ano, dada as grandes áreas de terra batida e muitas áreas em construção. Aguardávamos o ônibus que nos levaria para a Matinê da boate mais badalada da cidade, a discoteca Zoom (não tínhamos idade para nada além disso).
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Estavamos ansiosos por ouvir as musicas do momento. Hits como “Geração Coca-cola” (de uma banda nova de Brasília chamada Legião Urbana ou algo assim) e “Love Bizarre triangle”, do New order ale´m de outros sucessos das Fms como A-Ha, Information society, the cure, the smiths, Blitz.
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Lembro ainda que na boate havia aquele momento “Kedançanão”, em que o Dj parava os ritmos dançantes e colocava musicas lentas, e você se levantava, se aproximava de uma das meninas coladas na parede do outro lado da boate e perguntava “Quer dançar?” , “não!”, ela respondia sem ao menos pensar.. Que saudade!.
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De qualquer forma, lá estávamos nós na ponto de ônibus. O plano era simples. Seguiríamos de ônibus até uma determinada quadra do plano piloto. De lá, pegaríamos um taxi que nos deixaria em frente a boate, cerca de 3km de distância do ponto em que descemos. Enquanto os outros meninos chegavam com os pais, nos chegaríamos de taxi em grande estilo. Independentes, poderosos e... quebrados (depois do taxi, não teríamos dinheiro para mais que um refrigerante).
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No horário marcado, liguei para a casa do meu vizinho (evidentemente, celulares eram um conceito que só existiam em filmes de ficção) e decidimos nos encontrar no ponto do ônibus.
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Eu cheguei primeiro e estava distraído quando sinto a mão tocar em meu ombro. Quando eu me viro, reconheço o meu amigo mas, para minha surpresa e descubro que ele estava fantasiado de meu irmão gêmeo, ainda que eu não o tivesse. Eu explico. O meu amigo, apesar das óbvias diferenças físicas (eu moreno e ele louro), parecíamos uma versão mais bizarra ainda dos personagens do filme, “irmão gêmeos” (filme com Arnold Schwarzenegger e Danny DeVitto, um grande sucesso dos anos 80).
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Estávamos vestidos exatamente iguais o que, de fato, não era tão difícil naquela época. É que a moda era, como posso dizer, limitada. Pelo menos para os homens. Camisetas, Carteiras e mochilas, por exemplo, variavam somente entre marcas. K&K, Company, Cantão ou Redley para os riquinhos e Sun Coast ou Pier, para os pobrinhos. Sapatos eram Doc Sides AZUL (pode?) ou aquele tênis Redley (que sempre furava no dedo). As calças podiam variar entre o Jeans (BAG ou Semi Bag) ou a calça modelo Carpinteiro (que era um protótipo da calça Cargo de hoje em dia).
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E assim estávamos os dois. Ridiculamente vestidos não só com as mesmas roupas, mas as mesmas cores, variando somente as marcas.
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Discutimos, sobre quem deveria voltar para trocar de roupa. Os dois irredutíveis afinal, eram roupas novas compradas exclusivamente para o evento em questão. De qualquer forma, no horizonte, já surgia o ônibus:
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– Eu vou assim!
– Eu também.
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Desta forma, subiram nossos dois corajosos heróis no trepidante e barulhento ônibus, rumo ao encontro dos seus destinos...
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(A tela escurece e na tela negra surge o aviso em fontes brancas – “Continua...”)