segunda-feira, 26 de maio de 2008

Filmes de Terror - Parte 02

Não preciso dizer para você ler a parte 01 primeiro, preciso?
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Bem, continuando nossa grande, grande aventura pelo universo dos filmes mais assustadores que eu já ví, chegamos aquela que se tornou presença constante em muitos dos meus sonhos. Na época em que eu a conheci, ela era bem mais nova e eu tive medo daquele sentimento que ela despertava em mim. Ela sempre me deixou paralisado. Não conseguia parar de pensar nela toda vez que eu ia pra cama. Minha companheira de muitas noites em claro. E se eu sonhasse com ela, sei que acordaria de sobressalto e o seu nome era a primeira coisa que eu dizia.. SAMARA! OH, SAMARA!
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Se você ainda não sabe do que eu estou falando, dê uma chance para o aterrorizante "O CHAMADO" (THE RING) de 2002, remake americano do original japonês de 1998, Ringu. Para se ter idéia do que eu estou falando, eu nunca pensei que ia algum dia ter medo de uma fita de vídeo até assistir esse filme. É verdade! Graças a Deus hoje só tenho DVDs.
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No filme, Rachel Keller (A maravilhosa Naomi Wats – Eu amo-a!) é uma jornalista que investiga as estranhas mortes de adolescentes (incluindo sua sobrinha), que foram provocadas por uma fita de vídeo. Sete dias depois de assistir a fita maldita, a pessoa invariavelmente sofre uma morte horrível. Na busca por respostas, Rachel tem acesso a fita e agora ela luta contra o relógio para salvar tanto a sua vida quanto da sua família.
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O filme é do mal!! DU MAL! Pelo menos foi isso que pensei quando ví da primeira vez. Lembro que depois de assisti-lo no cinema, cheguei em casa sozinho e constrangedoramente nervoso (eu sou um adulto pô! Com medo de filminho de terror? Não mesmo!!). Abri a porta lentamente. Ela rangeu e os pêlos da minha nuca se arrepiaram. Ignorei e coloquei a cabeça para dentro. Nada flutuava na casa e nenhum espectro sinistro. Parecia tudo em ordem. Entrei e tranquei a porta atrás de mim. Olhei para a TV e ela continuava desligada. Fui acendendo as luzes enquanto passava. Cada passo cuidadoso e calculado. Foi quando eu passava pelo meio da sala que eu ouvi um som que me fez congelar. Meus instintos me diziam para voltar. Meus pés também. Eu parei e procurei identificar o som. Não era alto. Era uma voz? Não, eram vozes. Graves, melancólicas e ritmadas. Parecia algum tipo de coral. Um tipo de canto embalado num ritmo que seguia uma cadência própria.
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Cantavam tão baixinho que eu não conseguia distinguir se os sons eram realmente um canto ou um lamento... Mas de onde vinha aquela... Espere! O som vem do apartamento ao lado do meu. Mas eram quase duas da manhã... o que poderia ser?
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Na minha cabeça, vieram simultaneamente as imagens dos rituais que apareciam em filmes como "Indiana Jones e o Templo da Perdição" + "Conan, o Bárbaro" + A trilha de "O EXORCISTA" + "Carmina Burana". Sim, parecia Carmina Burana mais tristes e com menos vozes. Eu quase conseguia ver a imagem de danças macabras, tochas e sacrificios humanos acontecendo no apartamento ao lado às duas da manhã. Corri para o quarto e consegui a proeza de, num único salto, empurrar a porta e cair na cama com já com as cobertas cobrindo a minha cabeça. O meu único movimento para fora do meu braço para buscar um terço no criado mudo.
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Na manhã seguinte, acordo péssimo e desço até a portaria. Pergunto ao zelador quem eram os meus vizinhos (Quem mora em apartamento necessariamente não conhece os vizinhos) e comento que eu tinha ouvido um tipo de ritual a noite toda. Ah, são os japoneses, ele respondeu: Acho que o que você ouviu foi a "reza" deles. Me senti um idiota. Eles eram budistas... Valeu SAMARA, OH-SAMARA!
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Como vocês puderam ver, acho que medo mesmo eu não tenho, mas me causa um certo incômodo filmes que envolvem espíritos e demônios. Acho que porque a morte é ainda uma coisa meio mal resolvida para mim (talvez porque eu nunca tenha morrido). É um dilema. Ao mesmo tempo que a possibilidade da existência de espíritos me tranqüilize pelo fato disso significar que existe uma vida pos-morte, pelamordedeus, quem vai querer ver a prova? (A propósito, o que faz um espírito além de gemer de noite? BRRRRRRR... Pensando bem, eu não quero saber...).
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De qualquer forma, não é necessário o filme ter elementos espirituais para provocar incômodo. Prova disso é o excelente, THE DESCENT (O Abismo do medo) de Neil Marshal. Não procure informações sobre o filme além dessas que eu estou divulgando. Existem muitas resenhas oficiais que revelam informações que deveriam ser a surpresa do filme. Sendo assim, quanto menos você souber melhor. Assim você pode viver a mesma experiência que eu quando assisti o filme pela primeira vez.
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No filme, para tentar animar uma amiga que se encontra em recuperação após um trágico acidente, 06 amigas se reúnem para realizar uma exploração em uma caverna nas montanhas remotas dos Apalaches. É claro que a partir do momento que elas entram nas cavernas, alguma coisa vai dar errada e elas se vêem presas e na busca de uma saída alternativa. O filme trabalha com duas vertentes interessantes, primeiro, explora a "brodagem" feminina (similar ao the Thing, já comentado aqui no post sobre filmes de ficção). Por outro lado explora com perfeição o ambiente claustrofóbico das cavernas, com direito a muitas cenas escuras e iluminação feita somente por tochas e lanternas, o que por sí só já seria suficiente para te deixar desconfortável. Diante desse cenário, o clima de pânico e paranóia começa a se espalhar entre as amigas, aflorando velhas feridas e criando uma atmosfera de desconfiança que se torna extremamente perigosa quando a vida de uma está ligada a outra. O diretor brinca com quem assiste, apresentando ruídos e imagens que, tanto você, quanto os personagens, não tem certeza se o que o foi visto naquele momento era real ou imaginário até o clímax do filme.
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O melhor do filme é que ele se leva a sério. Não existe nenhum momento de relaxamento. Tenso do começo ao fim sem descanso para quem assiste. E esqueçam, depois desse filme vocês nunca vão me ver entrar numa caverna. O clima de tensão é tão forte que eu comecei assistir o filme deitado, e terminei sozinho em pé com as mãos cruzadas segurando o meu estômago para ter certeza de que ele não fugiria sem mim. Alguns dos sustos que eu tomei foram tão bem colocados que tive algumas paradas cardíacas (por sorte, sempre tenho um desfibrilador por perto nessas horas). Em compensação, depois da terceira vez que assisti, decorei os sustos, ai mostrava para todo mundo, só para na hora do susto poder medir quantos metros a pessoa pulava (essa era a parte mais divertida, eu rolava de rir!)
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Mas nem só de terror psicológico vive o fã de terror (Lembrando que a diferença entre Terror padrão e o Terror psicológico é que no horror padrão o medo é derivado de um sentimento de nojo e repulsa ao sangue, violência e imagens fortes, enquanto que no terror psicológico, o medo é gerado a partir da vulnerabilidade da mente humana a alguma situação ou sensação desconfortável psicologicamente).
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Eu não poderia terminar esse post sem render uma justa homenagem ao meu gênero de filme preferido, os filmes de Zumbis. Sim, zumbis ou mortos vivos são o tipo de filme que, ao meu ver melhor incorporam as duas vertentes do terror pelo a repulsa visual causada pelos zumbis somado ao terror psicológico ).
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Robert Kirkman, escritor da aclamada série em quadrinhos, Walking Dead (Publicada no Brasil com o nome de "Os mortos-Vivos") disse uma vez que esse gênero de filmes deveriam ser os grandes indicados ao Oscar. Eu concordo totalmente! Afinal, mais do que horror, os bons filmes de zumbis tratam, acima de tudo, da natureza humana e da luta pela sobrevivência quando todos os conceitos e regras de condutas da nossa sociedade caem por terra. O que fazer quando não existe mais lei? Em quem confiar sua vida a partir de agora? Você arriscaria sua vida para salvar uma outra? A pessoa que você ama é realmente a mais confiável?
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Enquanto essas questões são amplamente exploradas, os zumbis surgem como uma metáfora para representar o fim dos tempos. Uma ameaça que não pode ser controlada. Ao contrário do que se poderia imaginar nesse tipo de filme, é o elemento humano o principal foco de atenção do filme, e não a horda incansável de zumbi, que, de fato, poderiam ser facilmente substituídos por uma invasão alienígenas, um vírus mortal contagioso ou até mesmo por Poodles assassinos mutantes (que não teriam a mesma graça ou trariam o mesmo elemento de terror – exceto os Poodles mutantes – Brrrrr!!).
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Eu lembro que fui assistir com mais dois amigos "Madrugada dos Mortos" (Dawn of the dead, 2004), sim, porque filme de Zumbi é coisa de macho. 101 minutos depois de muitos sustos, gritos, explosões e sangue saiamos os três do cinema. Ainda injetados de adrenalina eu comentava com um dos meus amigos os melhores momentos do filme, as cenas mais chocantes e as mais assustadoras. O nosso terceiro amigo continuava calado. Quando eu perguntei o que ele achou do filme a reação foi de que eu tivesse acionado o gatilho. Surtou! Gesticulando e falando alto ele urrava seu ódio ao filme demonstrando o quanto aquelas os zumbis feriram o seu coraçãozinho. Eu quase podia ver as lágrima rolando pelo seu rosto. Se eu gritasse: "Atrás de você! ZUMBI!" Ele correria histericamente e correria balançando os seus curtos bracinhos de volta para o carro.
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Mas eu vou defende-lo aqui. O cara é bacana. Só é sensível. Seu cérebro, cheio de filmes iranianos, cursos de vinho e Chico Buarque fariam com que ele, no caso de um ataque de zumbis, se tornasse totalmente imune. Zumbi que é zumbi odeia frescura!!
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Segue uma pequena cronologia dos mortos-vivos para se entender este universo aterrorizante:
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A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead), de 1968. O filme tem grande importância por ter ditado as regras para os zumbis de TODOS os filmes que vieram depois dele. Como os zumbis surgem, a maneira como caminham, como se alimentam de carne humana e a maneira correta de destruí-los.
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Em 1978, George filmou "Madrugada dos Mortos" (Dawn of the Dead), a continuação do clássico, mostrando a destruição da civilização como a conhecemos pelos mortos-vivos.
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A partir deste filme, existem duas seqüências: uma dirigida por Lucio Fulci (grande mestre italiano de filmes trash), intitulada Zumbi 2, filmada em 1979, e a conhecida O Dia dos Mortos (Day of the Dead), filmada em 1985 pelo próprio Romero.
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Ainda em 1985 Dan O´Bannon filmou o sensacional "Retorno dos Mortos Vivos" (The Return of the Living Dead), que apesar de não estar ligado diretamente à franquia, segue os mesmos conceitos estabelecidos por Romero, apenas tentando dar uma explicação para o surgimento dos zumbis. Este filme possui um tom cômico que não está presente nos filmes da linha dos zumbis, mas vale muito a pena justamente por isso.
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Em 1990, uma refilmagem do A Noite dos Mortos Vivos (Night of living dead0, dirigida por Tom Savini, reconta a primeira história com melhores efeitos de maquiagem e enredo um pouco diferente, com um final novo.
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A partir dai o gênero "mortos-vivos" ficou esquecido por algum tempo, não surgindo nenhuma produção relevante que devesse ser destacada. O mérito da revigorada nos filmes de mortos-vivos foi do vídeo game Resident Evil de 1996, um sucesso que gerou continuações, toys, quadrinhos e rendeu o primeiro filme em 2002.
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Nesse mesmo, é lançado um filme que, apesar de não estar diretamente relacionado a mitologia dos zumbis teve uma grande importância para o gênero. Extermínio (28 Days Later, 2002), de Danny Boyle, trouxe pela primeira vez os zumbis velocistas. Ainda que não fossem mortos-vivos, e sim pessoas infectadas por uma "super raíva", (que transformava as vítimas em monstros psicóticos e super ágeis) o filme bebeu explicitamente da fonte criada por George Romero.
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Em 2004, a refilmagem de Madrugada dos Mortos usou também os zumbis velocistas de Danny Boyle para contar a história de um grupo de pessoas que acaba preso em um shopping center. O shopping muito maior e os zumbis vitaminados fazem deste filme um dos melhores de toda a franquia.
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A partir deste filme, foi estabelecido uma nova regra para os filmes de zumbis: Se o zumbi acabou de ser mordido, ele se movimenta com a mesma agilidade que fazia quando vivo; Somente os mais destruídos, enterrados ou carcomidos é que movimentam como os zumbis clássicos.
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Em 2005, o criador do gênero George Romero voltou a ativa com LAND OF THE DEAD. Lamentavelmente seu retorno não agradou tanto os fãs. O seu filme mostrava um caótico futuro onde uma sociedade tenta sobreviver ilhada por uma horda de zumbis inteligentes.
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Algum tempo depois, George Romero anuncia o lançamento de seu novo filme, Diary of Dead para 2007. O filme apresentaria uma linha documentário na primeira pessoa, num estilo Bruxa de Blair.
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Nesse meio tempo, surge [REC] um filme espanhol com o mesmo conceito. E com uma história simples. Uma equipe de
reportagem acompanha uma chamada dos bombeiros e são surpreendidos por um ataque de zumbis. O filme surpreende pela ótima direção repleta de sustos e bons efeitos.
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Apesar do fracasso do Land of the Dead, eu alimentava certa expectativa para Diary of the Dead, no entanto, o novo filme do criador do gênero é uma grande decepção.
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Enquanto isso, devido ao grande sucesso, [Rec] ganhou uma refilmagem americana que deve estrear ainda esse ano nos EUA.
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quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Jantar...



15:45 de uma quarta-feira. Meu celular toca. Na tela do aparelho surge um nome que, a princípio, demorei a reconhecer. Era um ex-rolo meu com quem eu não falava já fazia algum tempo. Sabe aquela pessoa com quem você saia e no começo parecua ser a maior novidade mas depois de algum tempo (tipo, no dia seguinte) você descobre que vocês dois não tem nada em comum? Pois é, era ela.
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Fiz uma cara suspeita mas atendi a ligação. Do outro lado eu ouvi o seu adorável e característico cumprimento:
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-Oie linduuuu! (Deu para entender porque era um "ex-rolo"?) Nossa, há quanto tempo! Você sumiu!!
- Pois é... (foi a melhor coisa que consegui pensar. Estava sem paciência no dia...);
- Estava pensando muito em você esses dias, viu gato? (hã, gato? Nesse momento tive certeza que não era em mim que eu estava pensando). Mas parece que você "si isqueceu" de mim, né? (Não, mas eu juro que estava tentando). Faz tanto tempo que não nos vemos, né, to com "saudadinha" de você, viu? (Saudadinha??? Só faltou um "miguxo" no fim da frase).
-Pois é... (respondi num ímpeto de originalidade. O que vocês esperavam? Um "eu também?");
-Você não quer sair para jantar comigo? Tenho convites, ela disse.
-Pois é... (respondi no modo automático e sem pensar mas me dei conta de que era uma pergunta de verdade...) Perai, você disse jantar???
- É... Eu ganhei um convite para um jantar de graça com direito a acompanhante. Lembrei de você e pensei que fosse uma boa oportunidade de nos vermos novamente...
(É claro que depois da parte do "de graça" eu não prestei muita atenção em nada...)
-Ué, pode ser... Onde e quando?
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Ela me passou as coordenadas. Segundo ela, tratava-se de um jantar oferecido por uma empresa para "parceiros" em uma famosa churrascaria da cidade, só para convidados "Vips". Tudo "na faixa", como ela mesma disse. UEBA! (Foi o que eu pensei irresponsavelmente sem imaginar que na vida, tudo tem um preço...)
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Mais tarde nos encontramos na porta da churrascaria. Sorrisos, abraços e beijinhos. Ela entregou os convites ao recepcionista que nos apontou na direção da escadaria informando que o jantar aconteceria numa sala de eventos especial do restaurante, localizada no segundo pavimento da churrascaria. Estranhei ainda mais. Porque nos isolar dos outros clientes? Havia alguma coisa que não cheirava bem, e não era a comida. Eu podia sentir algo errado no leve tilintar do meu sentido de aranha.
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No topo da escadaria uma porta dupla. Ao abrir, o som antes abafado de musica, conversas e risos invadiram meus ouvidos. Era uma sala grande, com as mesas distribuídas nas laterais e um buffet no centro (no estilo Self-service). Todos estavam bem vestidos. Ao entrarmos, uma morena baixinha e de cabelos curtos pareceu ter reconhecido minha companhia e imediatamente levantou-se sorrindo e veio na nossa direção. Meu instinto tilintava mais alto que a música. Ao ser apresentado, ela comentou comigo:
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- Nossa, a "Simone" (minha acompanhante, nome fictício é claro) deve gostar muito de você por ter te escollhido, dentre todos os amigos dela, para ser agraciado com uma oportunidade dessas.. (sentido gritando).
O-oportunidade? Que oportunidade?? Gaguejei apreensivo como se pudesse antecipar que algum ruim viria a seguir. (não era mais sentido, era uma sirene!)
A oportunidade de mudar sua vida... (Foi nesse momento que o tempo parou. O único som que eu conseguia ouvir eram dos meus batimentos cardíacos e a lenta e pesada frase que saia da boca daquela mulher... – VOCÊ JÁ CONHECE OS PRODUTOS HERBALIFE?? (Tchan-tchan-tchaaaan! Santas armadilhas Batman!! E eu cai direitinho!!).
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Me sentia traído. Pude sentir uma súbita sensação de calor subir pelo meu rosto. O repentino aumento do fluxo sangüíneo me deixou tonto por alguns segundos. Sentia a explosão de adrenalina. Tudo aconteceu muito rápido a partir daí. Eu agarrei o Braço da minha acompanhante e a empurrei com violência na direção das mesas enquanto gritava "THIS IS SPARTA!". Ela rolou por cima da mesa se agarrando à toalha que foi ao chão levando todos os pratos e talheres numa queda patética e ruidosa. Com os cabelos desgrenhado e olhos injetados de sangue ela, ainda no chão, agarra algumas das facas e garfos e os lança em minha direção. Eu seguro a baixinha de cabelos curtos e uso como escudo. Subitamente, dois homens de terno preto se levantam numa atitude ameaçadora. Antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, sou atingido por uma nuvem de Pó instantâneo para controle de peso Herbalife, que me cega de imediato. Impossibilitado de abrir os olhos, não me restava outra saída senão me atirar contra a janela atrás de mim, sendo acompanhado até o chão pelos estilhaços de vidro.
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Pelo menos foi assim que eu imaginei em um flash de segundo. Na verdade, o que eu fiz foi agarrar o braço da "Simone" e cochichar num tom rispido mas discreto:
- Porque você não me avisou que era isso???
Ela sorriu amarelo olhando para os lados:
Porque fiquei com medo que você não quisesse vir! (Sério? Ah-DÃÃ??)
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A amiga dela nos acompanhou até a nossa mesa descrevendo as vantagens de se integrar a família Herbalife e que o destino as vezes apresenta uma oportunidade única de mudarmos de vida e essa era uma dessas chances. Ela falava sobre o "supervisor" dela que antes era gerente do Banco do Brasil e que em poucos meses largou o emprego porque estava ganhando muito dinheiro com a Herbalife e tal. E eu rezei. Rezei para que meu celular tocasse. Ou um avião da TAM atravessasse as paredes. Quem sabe um tsunamizinho básico, somente para interromper aquele blablabla incessante. Mas não, nessas horas nada disso acontece.
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O discurso era tão automático que eu olhei pra trás para ver se alguém segurava cartazes com texto para ela ler. Conforme treinada ela chega a parte interativa do discurso me perguntando:
- Então, você está feliz com o que você está ganhando hoje em dia?
- Essa é uma pergunta capciosa, não? – respondi educadamente enquanto assistia o sorriso dela murchar – O que você quer que eu diga? Quem é que está feliz com o que ganha? As pessoas vivem conforme suas rendas. Se eu ganhasse 10 vezes mais do que hoje tenho certeza que, após algum tempo, isso não seria suficiente, concorda?
- É.. mas... er... Eu... Ela gaguejou e eu soube que tinha feito algo bom. Me senti bem. E fortalecido, continuei:
- E você. O que faz? Vive só de Herbalife? A quanto tempo você está com a Herbalife?
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Percebi que ela ficou totalmente constrangida:
- Eu trabalho numa loja de sapatos... Mas em breve eu pretendo me dedicar só a Herbalife, viu? É que eu estou meio enrolada e não posso me investir mais e além disso, o meu trabalho é uma ótima maneira oportunidade de expandir minha rede... Mas eu vou chamar o meu "supervisor" (não sei como eles chamam o cara que está acima na hierarquia herbalifeana).
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Ela saiu e eu fui fazer o meu prato. No caminho ví que "Herbagirl" cochichava algo no ouvido de um sujeito engravatado "- Temos um infiel na mesa sete, senhor!", "-Muito bem minha serva, eu cuidarei disso pessoalmente." – Imagino que tenha sido esse o diálogo porque logo depois ela volta acompanhada do seu "Mestre". Ela carregava no rosto aquele sorriso desafiador de "mexe comigo agora que eu quero ver".
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O sujeito era tão sorridente e tão simpático que me fez perder o apetite. E perder o apetite num jantar de graça é algo que me deixa muito irritado. E como disse certa vez o Dr. Bruce Banner - Acredite, você não vai querer me deixar nervoso.
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Logo o cara continuou com a ladainha iniciada por sua fiel escudeira, blablabla-oportunidade, Alguma coisa sobre construir rede, que quanto mais pessoas agregarem sua rede mais chances você tem de crescer. Tudo agora reforçado agora por sua simpática assistente de palco. Chaaaato! Foi nesse momento que eu cometi meu primeiro erro:
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- "Mas amigo, eu não gosto de vendas"...
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Lição 1) Nunca! nunca diga a palavra "venda" para um herbalifer. Esse é o código para acionar o "herbalife-life-stile-defense". A expressão do sujeito mudou. Foi como se sirenes e sinalizadores surgissem da sua cabeça "ALERTA VERMELHO! ALERTA VERMELHO!". O cara entrou em modo de defesa 4. Ele era um "transformer" .
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- Mas não é vendas!! HERBALIFE NÃO É VENDAS! É MARKETING!
Levemente irritado ele voltou a me explicar novamente sobre a rede, produtos, marketing, etc.
Depois ouvir todo o seu tedioso discurso (e ficar balançando a cabeça como se tivesse interessando soltando um discreto "humm", eventualmente), eu cometi meu segundo erro.(Eu deveria lançar um livro, como irritar um herbalife em duas lições):

- "Ah entendi, é tipo Amway"?

Lição 2) Nunca, eu disse, nunca compare Herbalife com Amway! Para um Herbalife é preferível você socar a cara dele até que ele caia insconsciente no chão e se afogue no próprio sangue, depois você violente suas mulheres e queime suas casas do que fazer essa comparação.
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Ele tentou se acalmar. Respirou fundo, arrumou a gravata e começou a me explicar, pausadamente, as diferenças entre as duas marcas.
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Obviamente são produtos totalmente distintos. Filosofias totalmente diferenciadas. A Amway só se importa com o dinheiro. A Herbalife quer melhorar sua qualidade de vida. A Amway e má e vai para o inferno. A Herbalife é cuty-cuty e fofinha! Certo! Enquanto falava, eu percebi que o suor escorria de sua testa ainda que o ar condicionado fizesse o lugar parecer a Sibéria (Havia 2 pingüins comendo Rosbife na mesa do lado! ROSBIFE!).
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Sem querer se dar por vencido, o supervisor resolveu chamar o seu "líder". Sabe o Mestre do Darth Vader? Então, ele trabalha na Amw-Quer dizer, Herbalife!. O supervisor do supervisor. Amado e idolatrado salve-salve. Agora eram três contra um. Nossa discussão, ainda que disfarçadamente "civilizada", às vezes se tornava mais acalorada. Mas tudo num clima de muuuito respeito, claro.
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Lembro que o melhor momento foi quando eu finalmente entendi o processo todo e resolvi resumi-lo em uma única frase:

-"Ah, é tipo pirâmide, então?".
Eles se entreolharam como se concordando que aquele era o limite. Senti que era o meu fim. Eu nunca deixaria aquele restaurante. Seria servido alí mesmo. Os seus seis olhos se voltaram para mim cheios de ódio. Mas antes que pudessem me dizimar por completo eu senti um tremor no peito. A princípio pensei que fosse um ataque cardíaco mas na verdade era Deus que mandava seu anjo em forma de toque de celular para me salvar. Estendi face da mão para o grupo num sinal de "talk to the hand, beotch" enquanto retirava o celular do bolso da camisa e virei-me de costas para me dedicar a ligação ignorando-os por completo.
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Acho que até era engano, mas eu fiquei tão feliz por receber aquela ligação salvadora que puxei conversa com o sujeito que ligava por uns 15 minutos. Voltei ao grupo que discutia entre si. Disse que surgiu um imprevisto e teria que me ausentar. Virei-me para a Simone que estava totalmente assustada e desconcertada. Estendi minha mão e disse firmemente: -"Venha comigo se você quiser viver".
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Saímos de lá rapidamente. Antes de deixar a sala de enventos pude ouvi alguém perguntado:
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"- Mas de quem eles são convidados?" .
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A sensação era a de que eu tinha conseguido lançar uma granada na sala enquanto me atirava pela janela estilhaçada.
Sorri satisfeito e sai sem olhar para trás.